quarta-feira, julho 12, 2006

banbangville chronicle


Nossa Senhora do Carmo. Ai, não me lembro onde fica Carmo. Mas é o nome da minha vó, momis da momis. Maria do Carmo. E padroeira de Nova Veneza, uma cidadezinha a duas léguas daqui, vila de quiabo assado. Alguém inventou de rebatizar aqui de Santo Antonio de Goiás. Mas é quiabo. Daqui pra lá é um dos trechos mais extraordinários de estrada q conheço. Os pneus vão roçando o asfalto bruto, quase cru, cantando aquela música de borracha. A lua que começa a minguar, mas ainda é bem cheia, dá pra ver o coelhinho se preparando pra pular direitinho, e vai dando aqueles contornos azuis em tudo em volta. Vagamente uma plantação de bois, vagamente uma terra que sobe, outra que desce. Quando o sol vai quase se deitando, é um dos vales mais lindos de se ver, uma estrada com bucolismo daqueles bem românticos, de se desligar totalmente do mundo. Drive drive drive.

Nova Veneza é a safira rosa desse mar de turmalinas. Uma cidadezinha linda que só, que já foi algo como uma colônia italiana nessas bandas de bandeirantes. O asfalto vai brigando com as lajotas e os paralelepípedos, mas tudo se resolve na pracinha da matriz, Igreja de Nossa Senhora do Carmo, coreto, bancos, aqueles jardins simplórios e tão gostosos do interior. Ela ta aniversariando, a santa. Ou a cidade, sempre me confundo. Na verdade, Nova Veneza é só uma vila gorda. Mas tem até museu, simpático, grande. E cantina. E o melhor açougue por aqui. Fizeram um mural lindo, de argila, alto relevo, num muro qualquer, perto da praça. Estacionei em frente. Meu irmão adorou. Eles fizeram a arquitetura típica da cidade numa composição veneziana, mesmo, canais e gôndolas. Uma nova veneza.

Um cordão de luzes. O convite pros próximos passos é uma frenética roda gigante, um colar de gaiolas que giram histéricas. A roda pára, de quando em vez, pra reabastecer de alguns malucos e desovar alguns heróis. Quermesse!!!! Numa rua que deve ser importante, porque ladeia a pracinha da matriz, aquele cordão de luzes. Não dá pra ver o final lá em cima. Só aqui embaixo. Carrinho bate-bate, apanhei do meu irmão e de mais dois pirralhinhos, mas me diverti horrores. Um carrossel hipnótico, com fila enorme. É um magnetismo absurdo, o carrossel. Daí no começo da subida da rua tem o barco viking, ao lado da roda gigante maluca. É o preferido de todo mundo. Aquele barco do Hagar, sobe, pára, e despenca em pêndulo pro outro lado. Meu estômago é fraco. O do meu irmão também, ufa...

Tiro ao alvo!!! Quatro em sete tiros, um monte de barrinhas de doces e porcarias maravilhosas do tipo. O pequeno, coitado, ainda não sabe segurar uma espingarda. É um teimoso. Mas o moço deu uma barrinha pra ele, também, foi bem legal. Subindo tinha bingo, roleta esportiva, boteco barato. Bijuteria, buginganga, mação do amor. Pinga com mel no bambu, ai, um clássico, dividindo palco com xibiu e outras coisas impronunciáveis! Mas os anos vão dois mil e alguns. E tem uma honda biz tunada. Fiquei tentando adivinhar como o moço conseguiu levar a motoquinha até a praça, não cabem as pernas. Ele deve praticar yoga. Muitas caixas de som, faz o som da rua. Uma scooter fazendo o som da rua! En barranquilla se baila asi. E em nova veneza também! Sabe o que mais? Tinha uma lan house, barraquinha de lan house, sensacional, propagandeando orkut, messenger, email, lalala. E cheia, cheíssima.

Ao contrário do moço tabaqueiro. Ninguém compra cigarros, por aqui. Cigarro é coisa impura, forte. De homem matuto, macho, velho. Ou de meninos muleques doidos. As moças não fumam, ninguém fuma. A itália mora bem por lá, ainda. Uns traços robustos, angulares, tão bonitos, cheios de sol. As peles rijas e fortes. Uma gente bonita, uma ingenuidade bonita. Por cá reza a lenda que é a melhor cidade pra namorar. Tem as moças mais bonitas. Elas andam quase sempre aos triunviratos. A solar geralmente vai ao meio, acompanhada das poias de menos sorte, mas de bons sorrisos, e transparente lealdade. Os meninos também usam o mesmo método. E ficam procurando o melhor trio oposto. Porque tem que ser aos trios, não pode se dissolver. E tem os grupetos dos infantes, bedelhinhos saltitantes, soltos, livres. Os casais tem as mãos bem firmes umas nas outras. Algumas famílias. Elas são novas e vastas. Meu irmão podia muito bem ser meu próprio filho, na quermesse. Ninguém estranharia. Ninguém. Os trios vão sendo vencidos, viram quintetos, bandas, no centro, onde uma capoeira se faz, onde a motoquinha é rainha.

A gente brinca de hóquei de mão, tão divertido, as pessoas param pra olhar, pra torcer. E o fedelho vai de crepe suíço, aquele do palitinho, mussarela e presunto, de lamber os beiços. Mas a hora já vai tarde, pra ele. E muito longe, ainda, pra quermesse.

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