segunda-feira, maio 29, 2006

diana


Ultimamente tenho acredito muito nas dificuldades.

Não sou viril nem índio o suficiente pra caçar. Caçar mesmo, pra vencer, pra derrubar, pra ter uma peça só pra você, pro jantar. Pra sair a esmo, no cheiro da terra, na calçada de estrela, de olhos mornos e pardos que buscam frenéticos um calor pra mirar. Mas isso é tão encantador, envolvente. É, queria mesmo ser assim. Acho que muitos queriam, sabe. Por isso tem as confrarias do vinho da borda oriental do vale d’or. E o orkut. O cartão de crédito, a daslu. Um criativo latifúndio de muretas, pinguelas, bosques sombrios. Atravessando com coração, com verbo, com soldo, muito soldo. Nossa floresta de caças.

Mas eu não sou caçador, e nem floresta, e nem presa. Não agora. E não adianta minha casmurra, minha masmorra, meu bonito sorriso. Eu não sou assim difícil, nem assim tão longe. Força, também não tenho assim. Tenho pele, muita. Uns olhos de terra. Uma saudade danada. Saudade de gente, de simplesmente dizer oi, e um bom abraço. Eu não tenho vencido nada, ultimamente, nem o espelho. E eu o tenho caçado, muito.

[ Foi um longo extraordinário final de semana. Companhias lindas, de olhos e coração. E teve um bento de lágrimas, também. Mas músicas, várias e novas. E velhas novas cores, pra sorver um pouco da certeza. E teve ontem. Ontem, o dia que insiste em acabar, com uma terrosa conclusão sobre o tempo. Ontem, perplexo, eu flutuava sozinho numa multidão borbulhante, cheia de dionísios. Um som maravilhoso, pululando, do palco pra minha boca, e minhas pernas não dançavam. Um prosaico show gratuito, que a todos sorria uma porta bem aberta. Sem dificuldades, nenhuma. E ainda assim não me senti ali, dentro. A simpatia se trancou em algum lugar, provavelmente junta da euforia, que também não eclodiu. E nem fui chato. Eu fui, mas não estava. Morno. Eu preciso de terra, pros meus pés, e parar de medir o sorriso entre o furioso símio e a singela framboesa. Acho que tem dias que não se precisa ser floresta, nem presa, nem caçador.]

Hoje eu quero ser o vento. E segui-lo.

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