sexta-feira, agosto 06, 2004

Semimimetismo

É um clichê, eu sei, mas eu não me canso de admirar o tanto que é esquisita a forma pela qual as pessoas se influenciam. Falo das influências involuntárias, não deliberadas, de quando vc só existe e isso faz uma grande diferença pra alguém(s).

Sinto (não sou muito bom nisso, talvez eu esteja enganado) que o último e ótimo post do Illimani foi influenciado pelo que eu escrevi sobre solidão. Nuuunca imaginaria que aquilo fosse tocante de alguma forma. Algo semelhante aconteceu a uns meses, conversando com uma amiga, que de repente começou a chorar enquanto eu falava coisas que me pareciam absolutamente normais e bobas. Foi um dos marcos iniciais da minha inédita fase de alta auto estima (auta estima? gostei...), perceber que eu posso ser mais que um bom ouvido (o que sozinho já é bom, mas às vezes não me basta) e que eu posso emocionar pessoas.

O fantástico Orkut me possibilitou encontrar uma menina por quem eu era apaixonado na oitava série, fase realmente muito ruim da minha vida (se andam querendo me bater hoje, naquela época... aiai). Como bom tímido eu obviamente não demonstrava nada, ela não desconfiava de nada, acredito, e ela, simplesmente por ser ela, determinou muitas coisas na minha personalidade, principalmente na forma pela qual eu encaro as mulheres, claro, mas também na minha relação com as pessoas em geral. Eu gosto de quem gosta de mim. Isso me deixa bobo. Demonstrações de afeto direcionadas a mim me fazem perdoar até falhas de caráter dos outros, o que nem sempre é bom. Atenção então me derrete. Se a pessoa estiver de fato ouvindo o que eu estou falando, com olhos atentos, eu fico idiotamente feliz. Isso faz com que eu goste de pessoas que costumam gostar das outras em geral , salvo raras porém importantes exceções. Além de muitas outras implicações que não cabem nesse post já excessivamente longo, que por isso poucos lerão, como de praxe na maioria dos blogs.

Não me lembro de gostar tanto de afeto até as caminhadas e os longos papos nas ruas tristes e sujas de Resende depois da aula de inglês em 97, com aquela menina sempre atenta ao que eu falava, olhos azuis bem abertos e receptivos. O sorriso torto que dizia que adorou a música que eu havia indicado na.... ahhh, devaneios...

O ponto é que hoje ela está lá feliz da vida virando dentista em Sampa e certamente nem imagina que uma vida é hoje absolutamente diferente por causa da simples existência dela. Tirando meu pai e minha mãe (claro), ela é a pessoa cuja influência na minha personalidade eu identifico mais claramente. Graças a ela eu tenho expectativas baixas. Graças a ela eu tenho um diferencial que eu reconheço e gosto. Graças a ela hoje eu tenho medo de morrer.

E ela nem imagina. Existe alguma forma de saber? Será q eu fui importante assim pra alguém sem saber? Como isso se processa, psicológica e socialmente? Quem se habilita a escrever um poema sobre isso? Ou uma música? Será que treinando nesse blog eu vou conseguir um dia expressar com palavras o que eu sinto e chego quase a pensar?

Pq, apesar dessas muitas palavras do post, “that wasn’t (exactly) what I meant to say at all…”

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