meus olhos
Cuidado, olha lá!... olha lá a sombra, que foge o sol, que sopra o vento, e cheira o sertão. É o carvoeiro, que apita, que canta a morte de seu boi-carreiro. Que será dele, santo cristo, que será?
Cuidado, carvoeiro, porque se o sol não lhe alcança a sombra, ele roça os tempos em sua casca. E o cheiro é cinza, carvoeiro, e sua luz e seu boi ido, que nunca foi de gerião. A água é de outono, mas não é dourada, nem dá fruta. Esse ingá, e o jatobá, carvoeiro, não grupiaram daquela água, menino-cinza, porque ela não é dourada, nem dá fruta. Foi soprada pelo diabo, o filho primeiro desse nosso deus, que nunca voltou pra casa. E se deus só lhe deu o sol, carvoeiro, é o diabo que lhe dá sua pele, sua carne pouca e rija, e seu osso miúdo. O choro não cai no chão, que a terra é seca, e o filho-que-não-é-pródigo não gosta dessa água. A sede dele seu boi matou. E morreu. Cuidado, olha lá... é deus que quer chegar, carvoeiro, mas ele não é cinza, e seus olhos são cegos, e seu boi morreu.