Não gosto de tango, mas...

Estou preste a realizar um sonho. A frase é forte, mas o texto tinha que começar assim. De outro modo estaria menosprezando a importância para mim do que está para acontecer.

Foi assim, apenas anotei alguns números num pedaço qualquer de papel sobre a mesa. Pequeno o suficiente para atrapalhar a escrita. Amassado o suficiente para que eu não possa esquecer do que efetivamente estava ali desenhado. Confesso, rápido demais, fácil demais; menos emocionante do que deve ser retirar a passagem e seus muitos papéis do guichê.

É isso... Sábado, 2 de julho, Brasília 7:41 – Garulhos conexão 9 e pouquinho (vou ter que trocar de avião ou não? Não posso me perder) – Buenos Aires 11:45. Depois de tantas noites me imaginando em um lugar diferente, de pessoas desconhecidas, de hábitos estranhos.

Lembro das noites em Cataguases e dos pensamentos tem que existir um outro lugar em que estivesse mais feliz e será que existe alguma coisa acontecendo além de onde minha vista alcança. A noites em frias e úmidas pensar como estariam vivendo as pessoas que não conheço. Uma infinidade de estranhezas e a minha curiosidade.

Já posso imaginar, Aeroporto Internacional de Brasília (como será a sala de embarque internacional?), Pablo com uma mochila nas costas, olhos brilhantes, pessoas andando apressadas de um lado para o outro sem trocarem olhares, semblantes pesados, alguns meninos indo para a Disney (babacas). Uma bolsa de mão, todo tipo de penduricalho que a minha mãe mandar levar. Nenhum livro em lugar algum. Já não posso esperar para visitar os sebos de Buenos Aires. Será um avião grade, desses que tem fileira do meio.

4 horas. 4 horas e um mês e uma semana de vagar pelas ruas sem compromisso. De observar as pessoas de um lado para outro. Dessa vez sem estar participando do cotidiano de ninguém. Caminhos de rompantes, de esquinas que perguntam a direção por seguir. Aulas de espanhol. Espero, aulas de culinária argentina. Um mês em que ninguém vai querer me achar no celular. Um mês de literatura. Um mês de culinária italiana e argentina. Carnes e vinhos. Chance de conhecer gente esquisita. Gosto de gente esquisita.

Vai estar frio. Temperatura entre 3 e 8º C, sol oblíquo. Descida do avião. Vento frio nas bochechas rosas. Lugar novo. Pessoas de natureza diferente. Distante, tão distante quanto ninguém pode me achar. E um mês de absoluta liberdade.