sexta-feira, janeiro 07, 2005

“E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou”

If they want me to believe in their god,they'll have to sing me better songs.....I could only believe in a god who dances.
-- Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900)

Acho que os deuses dançam. Acredito que a vida tenha obedece a ritmos. Não é sem razão que os vedas acreditam que o universo é regido por um deus que dança. Nataraj, que significa o rei dos dançarinos (do sânscrito nata = dança e raja = rei), é a forma dançante do Deus Shivas, componente da tríade sagrada do hinduísmo. Os passos de sua dança, Anandatandava, determinam a criação e a destruição no universo. Parece um deus feliz, sensual.

Além de Shivas, conheço apenas um outro deus que dança. Chama-se Bes, egípcio, é o único que deixa a sua arrogância divina e olha para as pessoas nos olhos. Suas representações pictográficas e em esculturas são as únicas que têm um deus olhando para as pessoas. Seu papel é divertir as crianças e as mães. Sua atividade é protegê-las.

Acho que o deus cristão cresceria muito e seria mais feliz se pudesse rebolar também. Ele parece ser meio triste, normalmente ele fica pregado na cruz; é difícil imaginá-lo rodopiando para controlar o universo.

A vida tem ritmos, por vezes ela marcha como um maracatu, pipocando entusiasmo. Outras, como uma moda de viola, caminha saudosa. Às vezes adquire a grandiloqüência de Bach. Mas às vezes assume os passos medidos da marcha fúnebre.

O compasso em que minha vida segue tem mudado. A sucessão alucinante de notas agudas do trance parece estar sendo substituído por algo mais doce, menos afobado. As notas são mais fortes e conseguem se impor por mais tempo, segue allegro. A melodia dos meus dias tem produzido uma bela música.



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