domingo, julho 16, 2006

Details of the War

Algum tempo mais tarde ele veria que aquela comida de sempre, quase sempre quase fria e quase gostosa, não estava mais amarga como de costume. Na verdade, concluiu que ela nem tinha mais muito gosto. Na verdade mesmo, devia ter, mas ele tinha mais no que pensar.

Já quase maior que o dele, o cabelo dela finalmente revelou a cor quase escura que dois ou três ou quatro meses mais tarde ele estaria perto demais para enxergar. Três ou quatro ou cinco meses mais tarde ele já não se lembrava dos detalhes do que pensara naquele almoço solitário ou não pensava mais no passado recente ou distante.

Mas na mesa do restaurante de sempre o passado de sempre como sempre era uma referência inescapável. Tentava lembrar se havia conhecido alguém tão interessante e intrigante. Não, naquele momento exato o que ele fazia era tentar evitar a constatação mais clara do que deveria ser de que ela era algo próximo daquilo que alguns anos mais tarde ele aprenderia se chamar tipo ideal.

Como pensava bastante mais que de fato vivia, ele criava detalhes e detalhes e ela ia aos poucos irritantemente se encaixando em cada um deles. Faltavam só alguns centímetros ao cabelo e um pouco de timidez. Mas o mais doloroso era que ela não estava dentro dele, em um canto interessante dos seus pensamentos confusos, mas sentada todos os dias numa carteira meio metro na sua frente, a quilômetros do seu alcance e a centímetros de furar sua capa de gelo.

O que também doeu perceber foi que desta vez a batalha contra sua esperança poderia ser perdida. Perderia de fato meses depois, quando o cabelo dela já estava grande o bastante para esconder os dedos dele. Mas naquele momento, ele ainda gastava energia numa guerra sangrenta contra sua atração por ela e, mais do que isso, contra uma sensação bizarra e inconveniente de que havia reciprocidade. Não poderia ser bom gostar dela. Mas ela parecia gostar... – nunca, tô viajando – Acabou a comida, hora de ir pra aula de inglês.

Nem o sol queria ser o sol seguro, confiante e inclemente de todos os dias naquele dia. Chegou a cair uma chuva, mas ela também foi um pouco covarde e parou antes que ele saísse do restaurante. Parecia que tudo estava confuso e inseguro como ele.

(10 confuso 7 se der pra entender 5 autobio 3 incoerente)

quarta-feira, julho 12, 2006

banbangville chronicle


Nossa Senhora do Carmo. Ai, não me lembro onde fica Carmo. Mas é o nome da minha vó, momis da momis. Maria do Carmo. E padroeira de Nova Veneza, uma cidadezinha a duas léguas daqui, vila de quiabo assado. Alguém inventou de rebatizar aqui de Santo Antonio de Goiás. Mas é quiabo. Daqui pra lá é um dos trechos mais extraordinários de estrada q conheço. Os pneus vão roçando o asfalto bruto, quase cru, cantando aquela música de borracha. A lua que começa a minguar, mas ainda é bem cheia, dá pra ver o coelhinho se preparando pra pular direitinho, e vai dando aqueles contornos azuis em tudo em volta. Vagamente uma plantação de bois, vagamente uma terra que sobe, outra que desce. Quando o sol vai quase se deitando, é um dos vales mais lindos de se ver, uma estrada com bucolismo daqueles bem românticos, de se desligar totalmente do mundo. Drive drive drive.

Nova Veneza é a safira rosa desse mar de turmalinas. Uma cidadezinha linda que só, que já foi algo como uma colônia italiana nessas bandas de bandeirantes. O asfalto vai brigando com as lajotas e os paralelepípedos, mas tudo se resolve na pracinha da matriz, Igreja de Nossa Senhora do Carmo, coreto, bancos, aqueles jardins simplórios e tão gostosos do interior. Ela ta aniversariando, a santa. Ou a cidade, sempre me confundo. Na verdade, Nova Veneza é só uma vila gorda. Mas tem até museu, simpático, grande. E cantina. E o melhor açougue por aqui. Fizeram um mural lindo, de argila, alto relevo, num muro qualquer, perto da praça. Estacionei em frente. Meu irmão adorou. Eles fizeram a arquitetura típica da cidade numa composição veneziana, mesmo, canais e gôndolas. Uma nova veneza.

Um cordão de luzes. O convite pros próximos passos é uma frenética roda gigante, um colar de gaiolas que giram histéricas. A roda pára, de quando em vez, pra reabastecer de alguns malucos e desovar alguns heróis. Quermesse!!!! Numa rua que deve ser importante, porque ladeia a pracinha da matriz, aquele cordão de luzes. Não dá pra ver o final lá em cima. Só aqui embaixo. Carrinho bate-bate, apanhei do meu irmão e de mais dois pirralhinhos, mas me diverti horrores. Um carrossel hipnótico, com fila enorme. É um magnetismo absurdo, o carrossel. Daí no começo da subida da rua tem o barco viking, ao lado da roda gigante maluca. É o preferido de todo mundo. Aquele barco do Hagar, sobe, pára, e despenca em pêndulo pro outro lado. Meu estômago é fraco. O do meu irmão também, ufa...

Tiro ao alvo!!! Quatro em sete tiros, um monte de barrinhas de doces e porcarias maravilhosas do tipo. O pequeno, coitado, ainda não sabe segurar uma espingarda. É um teimoso. Mas o moço deu uma barrinha pra ele, também, foi bem legal. Subindo tinha bingo, roleta esportiva, boteco barato. Bijuteria, buginganga, mação do amor. Pinga com mel no bambu, ai, um clássico, dividindo palco com xibiu e outras coisas impronunciáveis! Mas os anos vão dois mil e alguns. E tem uma honda biz tunada. Fiquei tentando adivinhar como o moço conseguiu levar a motoquinha até a praça, não cabem as pernas. Ele deve praticar yoga. Muitas caixas de som, faz o som da rua. Uma scooter fazendo o som da rua! En barranquilla se baila asi. E em nova veneza também! Sabe o que mais? Tinha uma lan house, barraquinha de lan house, sensacional, propagandeando orkut, messenger, email, lalala. E cheia, cheíssima.

Ao contrário do moço tabaqueiro. Ninguém compra cigarros, por aqui. Cigarro é coisa impura, forte. De homem matuto, macho, velho. Ou de meninos muleques doidos. As moças não fumam, ninguém fuma. A itália mora bem por lá, ainda. Uns traços robustos, angulares, tão bonitos, cheios de sol. As peles rijas e fortes. Uma gente bonita, uma ingenuidade bonita. Por cá reza a lenda que é a melhor cidade pra namorar. Tem as moças mais bonitas. Elas andam quase sempre aos triunviratos. A solar geralmente vai ao meio, acompanhada das poias de menos sorte, mas de bons sorrisos, e transparente lealdade. Os meninos também usam o mesmo método. E ficam procurando o melhor trio oposto. Porque tem que ser aos trios, não pode se dissolver. E tem os grupetos dos infantes, bedelhinhos saltitantes, soltos, livres. Os casais tem as mãos bem firmes umas nas outras. Algumas famílias. Elas são novas e vastas. Meu irmão podia muito bem ser meu próprio filho, na quermesse. Ninguém estranharia. Ninguém. Os trios vão sendo vencidos, viram quintetos, bandas, no centro, onde uma capoeira se faz, onde a motoquinha é rainha.

A gente brinca de hóquei de mão, tão divertido, as pessoas param pra olhar, pra torcer. E o fedelho vai de crepe suíço, aquele do palitinho, mussarela e presunto, de lamber os beiços. Mas a hora já vai tarde, pra ele. E muito longe, ainda, pra quermesse.

domingo, julho 02, 2006

Besta

Aí o comentário do maior imbecil do jornalismo esportivo brasleiro sobre Portugal.



Vai Felipão!

sábado, julho 01, 2006

I'm far too shy to speak to you at school

(Aí a parte 2. Parte 3 em breve)

But where do you belong?

Não fez essa pergunta ao ver aquela garota quase careca, com os cabelos crescendo. Mas faria, se a visse pela primeira vez alguns meses depois. Limitou-se, dentro da sua tristeza e gelidez habitual, a pensar se a garota se recuperava de um câncer.

- Oi.

Demorou dois segundos, o bastante para ver que apesar de careca ela era muito bonita.

- Oi.

Tímido. Tímido.

- Pelo que eu vi na aula você é o crânio da turma. Vou colar em você. Na minha escola antiga a matéria era diferente, vai ser complicado acompanhar algumas coisas.

Struggle for the words and then give up...

- ...

Será q ele é nerd-babaca?

- Mas se você se incomodar...

Não não...

- Não... foi mal. É q eu nunca vi uma garota careca. Aí eu fiquei pensando, esqueci de falar.

Que sincero...

- Hahahaha, sincero você. Mas então...

Linda...

- Tudo bem, eu te ajudo. Mas é tudo tão fácil...

Eu espero ele perguntar ou...

- Nada em troca?

Eu podia se mau...

- Foi mal, quero em troca te fazer uma pergunta, que pode ser muito errada mas...

Huahuahuaha.....

- Não, eu não tive câncer... um amigo meu disse [N. do A.: tava quase dormindo, tinha a frase, mas esquci]. Aí eu raspei pra ver como ficava. Gostei, fiquei uns 3 meses assim, carequinha mas enjoei, To deixando crescer.

Vou chamar ela pra almoçar comigo.

- Ah, legal. É... tá, quando você quiser vem falar comigo, meu nome é B...

Que menino fofo!!

- Hum, tá bom. Então, minha casa é longe, eu queria almoçar por aqui antes da aula de Educação Física da tarde...

Ela deve ser muito inteligente...

- ...

Fofo? Bobo?

- ...aí eu queria saber onde rola de almoçar por aqui...

Ahhh...

- Ah ta, é... a gente vai num restaurante aqui perto... tem uma galera indo... vamo com a gente.

Ele: Ela deve ser muito interessante. Mais uma amiga... (No fundo, e como sempre, ele tinha alguma esperança de que ela fosse diferente. E mais no fundo ainda ele sabia que se ele era o mesmo, seria tudo igual).

Ela: É o primeiro a não me olhar como ET. Deve ser gay. Cidadezinhas...

(Essa é outra parte da história do post anterior. Se alguém estiver interessado, mas não estiver entendo, relaxa q uma hora as coisas se encaixam)

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