Como lidar com a inveja? No excelente livro do Zuenir Ventura sobre o tema ele sugere que uma das características mais singulares da inveja é o fato de que ninguém a assume. As pessoas acham-na um sentimento tão baixo que preferem se enganar e fingir que estão imunes dela. Ou então colocam eufemismos como “invejinha saudável” ou “admiração”. Não nego que isso exista, mas não é disso que eu tô falando. Me refiro à podridão da coisa. De quando vc deprecia o alvo da inveja só pq vc queria ter o que ela tem. É realmente muito complicado assumir esse tipo de inveja. Pq vc sabe que é ridículo pensar mal de alguém que só fez viver, e viver mt bem, a própria vida. Mas vc não consegue evitar. E fica pensando como aquela pessoa paia conseguiu determinada coisa e vc não. E mesmo quando vc age assim não assume que é inveja. Que foda.
Hoje, depois de muito relutar, eu assumo que às vezes tenho esse tipo de inveja. Talvez até eu tenha mais do que eu percebo, pra mim são episódios muito isolados e localizados. Pq muitas vezes a minha inveja se confunde com uma profunda sensação de que eu sou muito mais perdedor do que eu sou na verdade. Então eu não sei se o que me corrói por dentro é a inveja ou uma sensação estranguladora de incompetência, Tudo bem que às vezes eu nem tenho a possibilidade de atingir os objetivos que os alvos da minha inveja atingem. E talvez seja exatamente nesses casos em que a minha inveja ataca, pq quando eu posso conseguir eu sinto só a incompetência, e ela me mata.
Negar pode ser fácil. Evitar é q não dá. É mais uma coisa que entra na minha idéia geral de que sensações ruins são inevitáveis e que o que nós temos a fazer é encará-las e lidar com elas, meio que se juntar ao inimigo e tirar dele alguma coisa. A idéia é canibalizar os problemas e tirar força deles.
Desde que este blog foi criado eu tenho escrito posts quando me sinto mal por alguma razão. Tem dado certo. O tempo de escrever, passar pro dashboard do blogger e ler o texto publicado me acalma, pacifica e me deixa zerado pra encarar a vida sem maiores crises. Escrever está, novamente, fazendo muito bem pra mim. Não porque eu crio um mundo ideal e entro nele, como quando eu tinha 15, mas porque eu olho um pouco mais atentamente pras coisas que me cercam. Com olhos de Poliana, claro, porque ultimamente meus problemas são essencialmente pequenos e por isso não devem ser levados tão a sério. Como eu disse para alguns amigos, eu não tenho direito de reclamar da vida, que está muito melhor do que nunca, em todos os sentidos. Tenho alguns momentos ruins, claro, mas no geral eu nunca estive tão feliz. Na verdade, acho que eu nunca havia estado feliz antes por tanto tempo. Ooops, divago, divago... isso mereceria um post exclusivo, se falar bem de si mesmo não fosse uma coisa tão mal vista.
Voltando. Com os textos eu tento fazer com que os problemas deixem de ser meus problemas para serem só problemas em si e ponto final, detachados de mim. Assim eles acabam tendo o tamanho que têm realmente, não o mastodontismo dos meus próprios problemas, sempre muito maiores que os dos outros, como os de qualquer pessoa. Assim, o internalismo clássico das minhas horas crisentas tem feito bem pra mim e pra meia dúzia que gosta de ler o que eu escrevo aqui. E tb tem feito muito bem para os meus grandes amigos, que estão tendo que ouvir bem menos choramingação que normalmente, apesar de estarem tendo que aturar os novos problemas da minha personalidade hedionda.
Mas como diriam os adesivos clássicos de carros, a inveja é uma pasta marrrom-outono (Isso mesmo, pasta marrom-outono. Não entendeu? Leia os posts anteriores seu mané!). E é uma pasta bem pastosa e bem marrom e tão outono que é quase inverno pra quem a sente, entende e assume. Porque a porra da grama do vizinho na verdade não é mais verde que a minha, apesar de eu (e não só eu) realmente achar isso muitas vezes.
P.s: Obrigado por ler todo o post. Se vc não leu, leia.